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O Meu Clube É a Seleção!

Mulher de muitas paixões, a Seleção Nacional é uma delas.

Portugal 0 Cabo Verde 2 - Irrelevante

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Na passada terça-feira, dia 31 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol recebeu a sua congénere cabo-verdiana, no Estádio António Coimbra da Mota, num jogo de carácter solidário, cujos lucros reverterão para as vítimas do vulcão da Ilha do Fogo. Este particular terminou com uma derrota por 2-0 para a equipa da casa.

 

Neste contexto, o termo "casa" é relativo pois, na prática, o número generoso de cabo-verdianos marcando presença no Estoril desafiava esse fator. 

 

Antes de avançar para a análise deste jogo, devo dizer que nunca estive particularmente entusiasmada com este amigável - sobretudo depois de saber que Portugal não alinharia com jogadores que tivessem participado no jogo com a Sérvia. Por outro lado, confesso, igualmente, que subestimei Cabo Verde - nem sequer me dei ao trabalho de me informar sobre o seu passado recente. Rui Águas bem tinha avisado que a seleção que dirige era "um bocadinho melhor" do que a Sérvia - devíamos tê-lo levado mais a sério. 

 

Por essa minha falta de interesse mais tarde, porque os portugueses pouco fizeram para me chamar a atenção, não liguei muito ao jogo, sobretudo durante a primeira parte. Para ser sincera, acho que não perdi nada, tirando uma ou outra iniciativa de Bernardo Silva durante a primeira parte. Podemos queixar-nos de azar no primeiro golo de Cabo Verde, que foi marcado de um ângulo impossível. E na expulsão de André Pinto, que recorreu a uma falta para evitar o terceiro golo cabo-verdiano.

 

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Por outro lado, esta equipa de segunda linha manifestou um problema que já é crónico nas primeiras linhas: a falta de eficácia. Não que seja uma surpresa quando que os pontas-de-lança utilizados foram Hugo Almeida (que está longe da sua melhor forma) e Éder (que já teve oportunidades de sobra, todas desperdiçadas. Como é que alguém ainda acredita nele?). Não é por acaso que Fernando Santos ande a optar por táticas sem ponta-de-lança. É a questão de sempre: equipa que não marca não merece ganhar, por muito bonito que a dita equipa tenha jogado - acreditam que, neste jogo, Portugal fez dezasseis remates contra dois de Cabo Verde, ambos certeiros? É rir para não chorar... 

 

A diferença essencial foi a seguinte: para Portugal, este era apenas um jogo amigável, uma boa ação, uma oportunidade para jogadores fora dos habituais vestirem a Camisola das Quinas e provarem o se valor, dentro do possível. Para Cabo Verde, foi uma oportunidade para enfrentar os antigos colonizadores, para se "vingarem" - da mesma maneira como nós enfrentamos a Espanha, por exemplo. Fernando Santos disse mesmo que, par eles, foi como "a final da CAN".

 

Este foi, em suma, um jogo perfeitamente esquecivel, irrelevante, pelo menos para nós, portugueses. Faz-me lembrar o jogo com o Gabão, em novembro de 2012 (estão a ver? Ninguém se lembra desse, pois não?), em que, também, não tínhamos mais de metade da equipa habitual. A diferença foi que, com o Gabão, o cachet foi para nós - no jogo de terça-feira, foi para Cabo Verde.

 

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Arriscando-me a parecer condescendente, ao menos os cabo-verdianos tiveram uma merecida alegria. Gostei de ver a festa que eles fizeram com os seus adeptos. Há que respeitá-los pela excelente atitude com que estiveram em campo. Prefiro sofrer um mau resultado perante uma equipa assim, do que perante uma equipa que passa um encontro inteiro a engonhar, a jogar para o empate. 

 

Na minha opinião, o verdadeiro culpado por este desaire é o calendário. Eu sei que já me fartei de reclamar da marcação deste jogo apenas dois dias depois do encontro com a Sérvia, mas toda esta situação deu-me um novo motivo de queixa. Se o particular com Cabo Verde tivesse sido marcado para um dia mais tarde (ou mesmo para fevereiro, como há dois anos), ou se o jogo com a Sérvia tivesse ocorrido um dia antes, nada disto teria acontecido. Não teríamos precisado de mandar embora os que jogaram na Luz, nem de Chamar uma nova fornada de Marmanjos para o jogo com Cabo Verde. Teríamos tido uma Convocatória única, talvez uma mistura saudável de sangue fresco e veteranos. Todos os jogadores ter-se-iam apresentado ao serviço ao mesmo tempo, realizado pelo menos uma semana de treinos em conjunto. Mesmo que um ou outro jogador (leia-se: Cristiano Ronaldo) inventasse alguma desculpa para se baldar ao amigável, a equipa que alinhasse frente a Cabo Verde teria, pelo menos, essa semana de rotinas (o que mesmo assim não é muito), suficiente para uma exibição razoável ou, pelo menos, melhor que a de terça-feira.

 

No entanto, por causa deste calendário, Fernando Santos foi obrigado a pegar em dúzia e meia de jogadores à solta, tendo apenas uma manhã para afinar a estratégia, a atirá-los para dentro de campo, esperando que eles se entendessem. Acham mesmo que era possível isto resultar, sobretudo perante uma equipa hipermotivada, como Cabo Verde? O que se pode provar nestas circunstâncias? Muitos reclamam da idade de jogadores como Tiago e Ricardo Carvalho, mas que se ganhou em ir de um extremo ao outro? É por estas e por outras que acho que, tirando a componente solidária, para Portugal, este jogo foi praticamente inútil.

 

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De uma maneira geral, no que toca a particulares, não costumo envolver-me demasiado, emocionalmente. Varia de jogo para jogo, é claro, mas, regra geral, prefiro poupar os nervos para jogos que valham três pontos. Os particulares são sempre abordados de maneira diferente que os jogos oficiais, raramente provando alguma coisa - só para que vejam, Portugal teve um péssimo jogo particular antes do Euro 2012. Por sua vez, os dois últimos particulares antes do Mundial 2014 não correram mal. Tendo o jogo com Cabo Verde ocorrido em circunstâncias tão diferentes das de um jogo oficial, na minha opinião, este não representa o valor real da Turma das Quinas, nem sequer representa o valor real dos jogadores utilizados no António Coimbra da Mota. Daí que eu desdramatize esta derrota. De qualquer forma, espero que estes Marmanjos se saiam melhor se/quando tiverem nova oportunidade. Convinha até que estas surgissem nos jogos que restam deste Apuramento... mas isso é um assunto para outra ocasião.