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O Meu Clube É a Seleção!

Mulher de muitas paixões, a Seleção Nacional é uma delas.

Portugal 2 Estados Unidos 2 - Inverno

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No passado domingo, dia 22 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol defrontou, em Manaus, a sua congénere norte-americana, em jogo a contar para a fase de grupos do Campeonato do Mundo da modalidade. Tal encontro terminou com um empate por duas bolas no marcador, deixando a Seleção praticamente eliminada do Mundial, ficando obrigada a golear o Gana, no jogo de amanhã, quinta-feira dia 26 de junho, e a esperar que a Alemanha ganhe aos Estados Unidos.

 

Visto que a minha irmã não estava em casa e eu não queria assistir ao jogo só com os meus pais, assisti a esta partida numa esplanada. O encontro até começou bem para o nosso lado, com aquele golo, bafejado pela sorte, de Nani. Gritei em coro com toda a gente na esplanada, feliz por, aparentemente, estarmos vivos e termos ainda uma palavra a dizer neste Mundial, por Nani, depois de tudo porque passou nos últimos tempos, depois de ter falhado a África do Sul, ter finalmente marcado um golo num Mundial.

 

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Ele merecia mais do que isto. Mas ainda não é altura de ir por aí.

 
Todos sabíamos que o 1-0 era um resultado perigoso, que tínhamos de marcar o segundo golo o mais rapidamente possível para matarmos o jogo. Só que esse golo nunca mais vinha e os americanos não desistiam de tentar anular a vantagem. Os portugueses iam tentando mas estavam tão lentos, era uma coisa parva, não sei se por causa do clima ou da sua forma física. Provavelmente por causa de ambos. Este jogo veio a confirmar aquilo de que já se suspeitava fortemente na segunda-feira anterior: em termos físicos, os jogadores portugueses estão um farrapo. Prova disso foi a lesão de Hélder Postiga, aos treze minutos. A sua saída acabou por não ser demasiado prejudicial, pois Éder revelou-se um dos mais inconformados ao longo de todo o jogo - não que isso tenha sido suficiente. 
 
Há que dizê-lo, os portugueses jogaram melhor que na segunda-feira anterior e viu-se que eles se esforçaram. No entanto, a fraca forma física revelou-se mais forte que a vontade. A verdade é que, tal como já tinha dito anteriormente, não é normal ocorrerem tantas lesões. Não acredito em "azar" ou coincidências - às tantas, aquele bruxo do Gana, que queria lesionar Ronaldo, foi tão eficaz que lesionou, não só o madeirense, como também três quatros da Seleção Portuguesa. Não sou, nem de longe nem de perto, a melhor pessoa para tecer julgamentos sobre esta matéria, mas devem ser fornecidas explicações sobre a situação. As que Henrique Jones e Humberto Coelho forneceram não me convencem. O mesmo se passa com a questão do clima. Conforme tem sido dito, de repente o País ficou cheio de especialistas em climatologia. No entanto, conforme tenho lido, não existem verdades absolutas nesta matéria. Não se sabe o que é melhor, se estagiar em condições adversas, semelhantes àquelas em que decorrerão os jogos, sob o risco de estas se revelarem demasiado agrestes para os jogadores treinarem, ou estagiar em condições ótimas para o treino mas diferentes das dos jogos. O que parece relativamente consensual é que este Campeonato do Mundo não foi preparado adequadamente.
 
Mas regressemos ao jogo.
 

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Ao início da segunda parte, tive esperanças de que os portugueses tivessem aproveitado o intervalo para se hidratarem e recuperarem as forças para correrem atrás do segundo golo. Não foi bem isso que aconteceu. Os portugueses continuavam tão lentos como em todo o jogo. Nem falo dos crónicos problemas na finalização - eles desperdiçavam cada uma... Acabou por acontecer o que se adivinhava havia pelo menos meia hora: os americanos marcaram. 
 
Os portugueses até pareceram acordar com este golo, ainda tentaram correr atrás do resultado, mas acordaram tarde demais. Paulo Bento mandou entrar Varela e eu até me lembrei de um lendário outro segundo jogo de fase de grupos. Ainda tive esperanças num desfecho semelhante. No entanto, não estávamos em 2012, em que havia frescura suficiente para alimentar a fase do "Ai Jesus!", frente à Dinamarca. Cedo aconteceu o pior: os Estados Unidos colocaram-se à frente no marcador. Houve quem reclamasse do fora-de-jogo no início da jogada, mas Portugal tinha tido mais do que oportunidades para evitar aquele desfecho.
 
Talvez aquela tenha sido a gota de água que fez com que, ao fim de todos estes anos, o copo derramasse, talvez uma parte de mim tenha deixado de acreditar logo aquando do desastroso jogo com a Alemanha. A verdade é que, poucos minutos após este golo, o meu estado de espírito era, para minha própria surpresa, de indiferença, de resignação. Percebia que este Mundial, pura e simplesmente, não estava fadado para nos correr bem (ai, o tão português fatalismo desta frase...). De tal maneira que nem festejei quando Varela marcou, em cima do final do jogo. Se por um lado o Drogba da Caparica voltava a dar uma de Salvador da Pátria, dando a Portugal uma ínfima hipótese de permanecer no Mundial, por outro lado, pode ter apenas adiando o inevitável. 
 

Já devem ter percebido que não, não acredito que Portugal vá além da fase de grupos deste Campeonato do Mundo. Mesmo que se dê o milagre e a Sorte seja favorável às cores lusitanas, duvido que tenhamos pernas para ir muito mais longe. Em teoria, soa melhor dizer que Portugal chegaria aos oitavos do Mundial em vez de dizer que não foi além da fase de grupos. Na prática, duvido que consigamos apagar a má imagem que temos deixado, com destaque para o nosso jogo de estreia.

Sinto-me tentada a partir já para as alegações finais, como se Portugal estivesse já fora do Brasil. No entanto, não me parece legítimo estar a escrever sobre as supostas razões do que está a ser uma péssima prestação, não quando a porta dos oitavos-de-final ainda não está definitivamente encerrada.

Posso já dizer, contudo, que isto não está a ser nada como estava à espera. Disse anteriormente que este Mundial seria como o verão - não está a sê-lo. Foi-o, de certa forma, durante as semanas de preparação, mas terminou com o jogo com a Alemanha. Agora está a ser como o inverno - o que até condiz com a meteorologia dos últimos dias. Talvez seja por isso que, também, não estou com grande pena de que isto possa acabar já amanhã. Ando, aliás, a desejar regressar às semanas, ou meses, antes do Mundial, ou mesmo ao ano passado - aos tempos inocentes em que podíamos, ainda, sonhar com um bom Campeonato do Mundo.

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Admito que o "eu" de há um ano ou dois, ou talvez mesmo de há uns meses, provavelmente desprezar-me-ia por estar a desistir tão "facilmente". Parte de mim, neste momento, até concorda: eu devia estar revoltada contra as previsões mais pessimistas, devia continuar a acreditar teimosamente, mesmo desesperadamente, como nos últimos tempos. É bem possível que isto seja apenas cansaço, um momento de desânimo, que daqui a umas semanas venha a sentir saudades destes dias. Contudo - embora isto não sirva, de modo algum, de desculpa - conforme já disse amiudadas vezes anteriormente, quando se passa tanto tempo como eu passo a tentar puxar pelos jogadores, a convencer os demais a puxar pelos jogadores, uma pessoa precisa de alguma espécie de retorno. Que, neste Mundial, tem sido nulo, independentemente dos responsáveis por essa situação.

Uma coisa, no entanto, não muda. Eu continuo aqui, no meu blogue, na minha página. Ainda que a minha fé tenha atingido mínimos históricos, continuarei a puxar por eles e a esperar um desfecho favorável às cores portuguesas. Nem eu sei explicar porque insisto nisso, talvez seja masoquismo, talvez seja porque é o meu clube, são os meus heróis e, conforme dizia numa curta-metragem que vi no outro dia, uma pessoa não abandona os seus heróis. É algo semelhante que, de resto, peço aos nossos jogadores para a partida de amanhã, frente ao Gana: mesmo que já não dê para passar, que tentem conseguir uma vitória ou, pelo menos, uma exibição decente, para ao menos sairmos deste Mundial de cabeça erguida. Não faltará, certamente, tempo para se fazer a análise completa ao fracasso, que parece inevitável. De qualquer forma, qualquer que seja o desfecho, eu estou aqui e sempre estarei. 

Portugal 0 Alemanha 4 - "22 (ou melhor, 21) homens atrás de uma bola", tragédia em Salvador

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Na passada segunda-feira, dia 16 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol estreou-se no Campeonato do Mundo da modalidade, em Salvador da Bahia, com uma pesada derrota frente à sua congénere alemã, por quatro bolas sem resposta.
 
Devo dizer que este é, provavelmente, o pior jogo da Seleção que testemunhei, e eu já acompanhei uma série de encontros medíocres: o jogo com os Estados Unidos e com a Coreia do Sul em 2002, vários das Qualificações para o Mundial 2010 e 2014, e estes são apenas dos exemplos de que me recordo neste momento. Só para terem uma ideia, nas primeiras vinte e quatro horas que se seguiram ao jogo, quando recordava os pormenores do encontro ficava com vontade de vomitar. Desejei, desesperadamente, ua maneira de fazer “reset” ao jogo, uma maneira de, como na série Tru Calling/O Apelo, rebobinar aquele dia, arranjar maneira de avisar a Seleção para que evitasse os erros que tão caro nos custaram. No entanto, isto é o Mundial, há muio mais coisas em jogo do que num particular ou num jogo de Qualificação; tal como disse na crónica anterior, estes encontros ficam gravados na História, para o melhor e para o pior, e temos de lidar com toda a repercussão do jogo – que, obviamente, não foi a mais simpática para o nosso lado. 
 
Durante a primeira parte do jogo, pude, felizmente (ou infelizmente) ir acompanhando a nível quase constante o relato radiofónico. Adicionalmente, tinha as mensagens que a minha irmã me ia enviando e o site do jornal A Bola, consultado regularmente pelos meus colegas, que se ia atualizando com as incidências do jogo. Logo nos primeiros minutos, Rui Patrício fez um passe infeliz para Khedira, estilo o que fizera no último jogo com Israel. Khedira não soube aproveitar a prenda que o guarda-redes português lhe ofereceu, mas agora percebe-se que este deslize de Patrício era um indício trágico do que aí vinha. 
 

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Eu não desanimei demasiado com o penálti convertido a golo, poucos minutos depois. Esperava um efeito semelhante ao do jogo com a Holanda, há dois anos: que o golo sofrido os acordasse e os fizesse correr atrás do empate. Não foi isso o que aconteceu, aliás, a Turma das Quinas desfez-se em pedaços por completo e nunca mais recuperou.
 
Ficou claro que, psicologicamente, os portugueses estavam em farrapos. Um belo exemplo disso foi Pepe. Foi uma sorte um estar sozinha quando ouvi no relato sobre a sua expulsão, pois na altura tapei o rosto com as mãos, com elas abafando as pragas que me saíam dos lábios. Pelo relato, percebi que o vermelho direto resultara de uma infantilidade, mas não me inteirei dos pormenores. Pouco depois, a minha irmã disse-me, por mensagem, que fora um dejá-vu do vermelho de Hélder Postiga na Irlanda do Norte, no ano passado. Não é preciso dizer mais nada. 
 
Para a segunda seleção mais velha deste Mundial, os portugueses mostraram demasiada imaturidade no Arena Fonte Nova. Pior, mostraram ser incapazes de aprender com os erros. O caso de Pepe é particularmente preocupante, ele que já se viu envolvido em demasiadas situações semelhantes a esta. 
 

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Nesta altura, já tínhamos sofrido o segundo golo e já Hugo Almeida tinha saído, por lesão. Paulo Bento terá demorado a reorganizar a defesa – já frágil, mesmo antes da perda de Pepe – o que nos custou o terceiro golo. Nesta fase, percebi que dificilmente empataríamos, quanto mais ganhar, e só desejei que Portugal marcasse pelo menos um ou dois golos, só para recuperarmos uma fração que fosse da nossa dignidade. 
 
Foi mais uma esperança vã. Nesta altura, já eu tinha saído do trabalho e ido para a esplanada de que falei anteriormente, com wi-fi. Aqui, havia-se juntado uma pequena e, naquela altura, insatisfeita multidão a ver a tristeza que estava a ser o jogo. Portugal só não sofreu muitos mais golos porque – e isto é, talvez, o mais humilhante de tudo – os alemães tiveram pena de nós e baixaram o ritmo. 
 
Houve tempo para o árbitro nos negar um penálti, que parecia verdadeiro. Ao ver Ronaldo correndo atrás do árbitro, temi que ele desse uma de João Pinto, e gemi:
 
- Alguém o agarre! Alguém o agarre!
 
 
 
Felizmente, ter-lhe-á sobrado um fragmento de sensatez para parar de correr e ficar a refilar para si mesmo. Ainda bem; já estávamos a deixar uma péssima imagem da nossa Seleção, a última coisa de que precisávamos era de ter o nosso Capitão a agredir o infeliz do árbitro.
 
Os portugueses bem se queixariam, mais tarde, do juiz da partida, queixas que tinham a sua legitimidade, mas nem eles podem dizer que o árbitro foi o único culpado pelo descalabro - aquele penálti por marcar sobre Éder pouco faria por nós. Mais, muito antes de o encontro entre Portugal e Alemanha ter começado, já muitos jogos do Mundial tinham sido marcados por arbitragens polémicas. Eu já antes sabia que, se nos calhasse também um árbitro de imparcialidade duvidosa, as vítimas não seriam os alemães. Não vou dizer que os portugueses tinham obrigação de saber isso - se o árbitro estivesse firmemente apostado em prejudicar-nos (não vou dizer que estava), pouco se poderia fazer - mas atitudes como as de Pepe em nada ajudam nestas situações.
 
O pior do jogo foi mesmo a perda de Fábio Coentrão, que foi obrigado a abandonar o Mundial. Ele que - todos concordam, apesar de continuarem a insistir no Ronaldo-mais-dez - é insubstituível e definitivamente não merecia isto. Não quando sempre foi, praticamente desde que se estreou com a Camisola das Quinas, um dos que mais dá pela Seleção, independentemente do seu momento de forma. Logo agora, que parecia atravessar uma fase tão promissora. O destino foi-lhe cruel.
 
 
É, de resto, um dos aspetos que mais me aflige: o número elevado de lesionados ou de candidatos a sê-lo. Não é um problema exclusivo de Portugal; é bem conhecida a lista de grandes jogadores que falharam este campeonato. No entanto, pelo menos no que toca à Seleção Portuguesa, não me lembro de outro Europeu ou Mundial em que tivéssemos tido tantas baixas ou tantos riscos de inaptidão para os jogos. Toda a gente fala do calendário pesado da temporada, há quem aponte isso como motivo para os recentes e surpreendentes fracassos de Inglaterra e, sobretudo, Espanha, mas, tanto quanto me lembro, é a primeira vez que isto acontece. Porquê este ano em particular?
 
Antes do fim da agonia, ainda houve tempo para o quarto golo alemão, resultante de mais uma falha na defesa, em que Rui Patrício tornou a ficar mal na fotografia. Estava feito o resultado. 
 
Não é a primeira vez, nem a segunda, que nos estreamos a perder num campeonato de seleções. Eu acreditem nas palavras otimistas de Cristiano Ronaldo, na véspera do jogo (e nem falo do camelo...), mas aceitaria perder por 1-0, 2-1, 2-0 ou mesmo 3-1.  Afinal de contas, em 2004 e 2012, as derrotas iniciais não impediram bons desempenhos nos respetivos Europeus. E em 2012 até não fizemos má figura, nem mesmo em 2008, apesar de esse jogo ter ditado a nossa expulsão do Euro. Mas nunca foi assim tão expressivo, tão humilhante. O único jogo que se compara é o da nossa estreia no Mundial 2002 com os Estados Unidos - e toda a gente sabe como essa história acabou. O pior é que ando a ver semelhanças com 2002: lesão da maior figura da equipa, dúvidas sobre a adequabilidade das condições em que decorreu o estágio, sobre a estabilidade emocional dos jogadores.
 
 
É claro que, quando a Seleção passa por crises semelhantes a esta, se coloque tudo em causa, que venham a lume teorias da conspiração. Carlos Queiroz, por exemplo, não deixou de meter a sua farpa, como é habitual. O provérbio "em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão" nunca fez tanto sentido, ainda que muitas das críticas tecidas tenham a sua legitimidade.
 
Para mim, o pior não é a derrota em si, nem mesmo o resultado. O pior foi o fracasso do espírito de Seleção, da garra, da entreajuda, em suma, daquilo que falei, daquilo que exaltei, na última e outras crónicas neste blogue, no artigo que enviei para o Record Online. Essa é que foi a verdadeira desilusão. Com que cara fico eu quando, depois de ter garantido que cada um dos jogadores é melhor quando joga na Seleção do que sozinho, não se viu nada disso no Arena Fonte Nova?
 
Não percebo o que aconteceu, sinceramente. A "equipa" que jogou com a Camisola das Quinas em Salvador não é a Seleção que eu conheço, não é nada.
 
Algo vai ter de mudar. Paulo Bento tem ideias fixas (por outras palavras, é casmurro que nem uma mula), mas terá de alterar alguma coisa. Que mais não seja porque tem quatro jogadores indisponíveis para o jogo com os Estados Unidos. Se antes se podia tolerar os seus implicanços com a Comunicação Social  - porque até tinha razão nalgumas coisas e, de resto, não se podia apontar-lhe muito, pois tinha vindo a cumprir os objetivos, com maior ou menor dificuldade - agora não tem o direito de ser tão arrogante como tem sido. Com alguma sorte, acontecerá o mesmo que aconteceu a Luiz Felipe Scolari, após a primeira derrota com a Grécia no Euro 2004.
 

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Portugal está agora obrigado a ganhar tanto aos Estados Unidos como ao Gana para poder passar a fase de grupos. Parece que, já que o Gana e a Alemanha empataram (como é que o Gana conseguiu fazer frente aos alemães e nós não?), a nossa atual diferença de quatro golos não deverá ser um problema. Em circunstâncias normais, eu diria que é assim que, de resto, a Seleção "gosta" de jogar: com margem de erro reduzida, sempre no caminho mais difícil. Eu mesma calculava que, muito provavelmente, seria assim que a fase de grupos se desenrolaria, cheguei mesmo a considerá-lo desejável (não torno a dizer que uma derrota pode ser "boa"; tal como no lugar-comum, vou ter mais cuidado com o que desejo). Mas, ao longo destes dias, tenho tido medo das sequelas anímicas do nosso primeiro jogo do Mundial, de que a forma física dos jogadores, as condições climatéricas, sejam mais fortes que a vontade de fazer bem, de que os mais pessimistas tenham razão. Esta derrota desanimou-me imenso. Não foi para isto que esperei estes meses todos, para não dizer quase dois anos. Agora, que estamos a menos de vinte e quatro horas do jogo com os Estados Unidos, já recuperei uma boa parte desse ânimo, mas continuo com muitas dúvidas. 
 
Eu já devia estar habituada, já devia saber que não é fácil saber que é fácil ser-se adepto incondicional da Seleção. É muito mais fácil ser-se daqueles que se vestem com as cores nacionais sempre que a Seleção está em alta mas que, nos momentos difíceis como este, desatam de imediato a criticar tudo e todos. Eu já devia tê-lo interiorizado mas, pelos vistos, padeço do mesmo mal que os Marmanjos: nunca aprendo.
 
Eu não quero ser desses adeptos hipócritas. Ainda que, ultimamente, ande a pensar que, um dia destes, vou pura e simplesmente desistir, deixar de me ralar com as desventuras da Seleção, parar de tentar constantemente, puxar por eles, encorajar as outras pessoas a apoiá-los como eu apoio, porque eles nem sempre o merecem, não será para já. Pelo menos não enquanto houver uma hipótese de fazermos um bom Mundial. Como já aconteceu antes, não é tanto por convicção, é mais por desespero. Não quero que isto acabe assim, não quero que 2002 se repita. Quero acreditar que nós somos mais do que fomos segunda-feira, que aquilo foi a exceção, não a regra, que a Seleção vai levantar-se outra vez, tal como o tem feito várias vezes nos últimos anos - incluindo em alturas em que nem eu já quase acreditava. Paulo Bento conseguiu ressuscitar a Seleção depois do caso Queiroz, tem de conseguir fazer o mesmo agora. Isto não pode acabar assim. 
 
Mostrem que somos mais do que isto. Mostrem que somos a Seleção.
 
 

Antes da nossa estreia no Mundial 2014

Na madrugada de sexta, dia 6 de junho, para sábado, dia 7, a Seleção venceu a sua congénere mexicana por uma bola sem resposta, num jogo amigável que teve lugar no Gillette Stadium, em Boston. Quatro dias depois, no Met Stadium, em Nova Iorque, a Seleção enfrentou a sua congénere irlandesa e tornou a vencer, desta feita mais expressivamente, por cinco bolas contra uma. 

Não escrevi entradas individuais para cada um destes jogos, como costumo fazer, essencialmente por falta de tempo e de material. Quando falo em material, refiro-me à análise ao jogo por parte de um jornal desportivo, no dia seguinte, na qual me baseio para escrever as crónicas. Devido à hora tardia destes últimos encontros, não foi possível aos jornais fazerem uma análise completa aos mesmos, logo, faltaram-me as bases para escrever mais exaustivamente sobre eles. 


O jogo com o México, de resto, pouca história teve, assemelhando-se ao do Jamor, contra a Grécia. Neste, o nosso domínio não foi tão constante, os mexicanos estiveram várias vezes por cima, o jogo poderia ter dado para ambos os lados. Só não virou a favor dos mexicanos graças a Eduardo, que fez uma mão cheia de belas defesas, provando merecer estar entre os Convocados - em termos de guarda-redes, a Seleção está bem servida. Numa altura em que aquilo já me parecia uma repetição do sábado anterior, em que considerava que aquelas quase duas horas teriam sido melhor empregues a dormir, João Moutinho bateu um livre, assistindo Bruno Alves para o único golo da partida. Para um defesa, o Bruno anda a marcar bastante pela Seleção. Foi um triunfo pela margem mínima, ao cair do pano, mas que sempre serviu para levantar um pouco a moral. 

O jogo com a República da Irlanda foi melhor, esse sim valeu as horas e sono perdidas. É claro que ajudou o facto de os irlandeses estarem uns furos abaixo dos gregos e dos mexicanos, mas os portugueses não deixaram de proporcionar bons momentos de futebol - e não foi apenas o recuperado e regressado Cristiano Ronaldo a brilhar. A partida começou logo bem, com um golo do (para muitos) improvável Hugo Almeida, assistido por Varela. O resto do jogo desenrolou-se mais ou menos da mesma forma, com Portugal em claro domínio. Fábio Coentrão marcou um meio golo, assistindo um infeliz irlandês, que marcou na sua própria baliza. Mais tarde, Ronaldo tentou a sua sorte, falhou, Hugo Almeida foi à recarga e conseguiu marcar.


Muitos podem ter ficado surpreendidos com o desempenho do ponta-de-lança, mas eu não, pelo menos não tanto. Ele já não marcava pela Seleção há um ano, é certo, e chegou a fazer um par de jogos infelizes no passado recente. Eu, no entanto, lembro-me que há uns anos ele marcava com regularidade pela Seleção. Fico satisfeita por esse Hugo Almeida estar, aparentemente, de regresso a tempo do Mundial.

Ao início da segunda parte, eu receava (e quase esperava, pois sempre me daria uma desculpa para parar de ver o jogo e ir dormir) que o rendimento decaísse, sobretudo quando se processassem as substituições. Tal não chegou a acontecer, tirando o golo que sofremos. Para quase toda a gente, tal golo nasceu de uma falha de concentração. A minha irmã, contudo, alega que o livre foi batido antes do tempo, quando os portugueses ainda organizavam a barreira. Quanto a isso, não consigo chegar a nenhuma conclusão, nem mesmo depois de rever as imagens do golo. Apenas dá para ver que, independentemente do motivo, os Marmanjos estavam de facto distraídos durante esse lance.

Muitos esperariam que a saída de Cristiano Ronaldo tirasse qualidade ao jogo. Não foi isso que aconteceu pois, quando saiu Ronaldo, entrou Nani, cheio de ganas, que rapidamente assistiu para os dois últimos golos da Seleção Portuguesa, um de Vieirinha, outro de Fábio Coentrão (que também anda mais goleador do que o habitual, se considerarmos o seu meio golo na primeira parte). Pelo meio, ainda viu um golo anulado após uma linda jogada de tiki-taka por ele protagonizada. Nani dá-nos, deste modo, sinais de que poderá fazer um bom Mundial, algo que, há escassas semanas, me parecia altamente improvável.


Depois de, anteriormente, ter defendido que o empate frente à Grécia não provava nada, seria hipócrita estar agora a dizer que estes dois últimos particulares provam muito mais. Se é de esperar que, numa fase mais avançada da preparação do Mundial, os jogos corram melhor, a verdade é que, há dois anos, Portugal perdeu de forma ridícula com a Turquia mas não deixou de fazer um belo Euro 2012. Viu-se que os portugueses pelo menos parecem empenhados, motivados. No entanto, todos sabemos que, quando for a doer, tudo será diferente.

Será a doer já amanhã, segunda-feira, pelas cinco da tare, hora portuguesa, no Arena Fonte Nova, em Salvador da Bahia, frente à Alemanha. É o segundo campeonato de seleções consecutivo em que nos estreamos com os nossos amigos alemães, que de resto também defrontámos no Mundial 2006 e no Euro 2008. Não guardamos boas recordações de nenhum desses jogos, embora talvez pudéssemos ter guardado do último.

Há uns meses, diria que seria pouco provável ganharmos. Hoje, contudo, não acho que seja assim tão improvável. O jogo do Euro 2012 podia ter-se virado a nosso favor, bastaria aquela bola ao poste do Pepe ter entrado, ou o remate de Varela na segunda parte. Além do mais, o futebol alemão não parece tão ameaçador agora, já que este ano nenhuma equipa alemã atingiu a final da Liga dos Campeões. Também me soa animador o facto de os portugueses do Real Madrid terem sido bem sucedidos frente às várias equipas alemãs que lhes saíram na rifa. Alguns adeptos alemães não parecem, igualmente, muito confiantes na sua seleção. Por fim, os alemães deram a entender em algumas declarações que nos subestimam, com destaque para aquela em que nos comparavam com a Arménia.


Tudo isto, no entanto, não passa de conjeturas, se não forem ilusões. Não alteram o facto de a Alemanha ser, a par da Espanha (isto é, depois do jogo com a Holanda não sei...), Brasil e Argentina, uma das seleções candidatas ao título mundial, tal como o era há dois anos. Portugal pode vencer a Alemanha, mas terá de suar para fazê-lo. Por um lado, gostava mesmo de ganhar este jogo, ou pelo menos de empatar, para não ter de escrever uma crónica intitulada "22 homens atrás de uma bola, a trilogia" e também porque, se conseguíssemos vencê-los, seria um sinal de que até poderíamos ser candidatos ao título. Por outro lado, eu conheço a maneira como a Seleção Portuguesa funciona. Sei que se sai melhor sobre pressão, perante adversários mais fortes ou situações de aperto em termos de classificação. Os Estados Unidos já nos apanharam de surpresa uma vez, o mesmo pode acontecer caso entremos em campo com eles com a atitude descontraída de quem já tem três pontos amealhados. Daí que quase prefira o empate, ou mesmo a derrota.

De qualquer forma, a partir de amanhã, acabarão as teorias, os prognósticos, as apostas. O que quer que aconteça durante o jogo, cada golo, cada falta mal cobrada, cada cartão injustamente atribuído, ficará escrito a tinta-da-china na História. Poderemos, depois, olhar para eles da maneira que quisermos, mas não haverá maneira de mudá-los. Só aí saberemos quem estava certo ou errado, só aí será determinado o verdadeiro valor da nossa Seleção. Já sinto o "bichinho" a morder, a típica mistura de nervosismo e excitação, quando olho para os jogos já ocorridos do Mundial e respetiva repercussão nos media e redes sociais, e me apercebo que, na segunda-feira, seremos nós o objeto das notícias, análises, comentários e piadas.

Conforme tenho repetido inúmeras vezes nos últimos tempos aqui no blogue, não vou poder ver a primeira parte do jogo. Agora que estamos mais perto do mesmo, calculo que poderei ir estando a par d que for acontecendo, quer através do relato radiofónico, quer através de um daqueles sites, que se vão atualizando com os lances, quer, se tivermos sorte, através das das exclamações das pessoas que estiverem a ver os jogos nos cafés da zona. Quando sair, por volta das seis, corro para um desses cafés para ver a segunda parte. Em princípio, será um com wi-fi, por isso, talvez consiga levar o meu computador e ligar-me às redes sociais.


Embora não considere "desonestidade intelectual" pensar o contrário, não acho que Portugal seja candidato ao título, por diversos motivos, alguns dos quais estão listados num artigo que enviei para o Record Online. Contudo, no mesmo também recordo que, no futebol, não há impossíveis, tudo pode acontecer, e Portugal, de resto, possui meios para fazer mais do que esperar por um milagre, possui meios para, como costuma dizer Paulo bento, competir com qualquer equipa, para dar luta. Conforme afirmei no artigo, e já várias vezes aqui no blogue, Portugal pode não ter os melhores jogadores do Mundo, tirando uma exceção bem conhecida, mas estes, quando vestem a Camisola das Quinas - sobretudo em momentos decisivos - funcionam bem uns com os outros, como uma equipa, como um só, elevam-se acima do valor que lhes é cotado. E, conforme afirmei no artigo, chego a depositar mais fé nesse espírito, na garra e determinação dos jogadores, na união entre eles, na sua vontade de fazer bem, que propriamente na sua qualidade técnica ou momento de forma. Esta minha convicção aplica-se tanto à tendinose rotuliana e Cristiano Ronaldo, à falta de ritmo de Nani, à forma duvidosa de Hélder Postiga, às reservas da opinião pública relativamente a jogadores como Vieirinha ou André Almeida.

Encaro este Mundial da mesma forma como tenho encarado os últimos campeonatos de seleções: com as minhas reservas, mas convicta de que tudo é possível, com a esperança de que a coisa corra bem para o nosso lado, de preferência com o título mundial à mistura. A preparação encontra-se à beira do fim, a partir de amanhã é a doer. A ver o que o destino nos reserva. Para já, não tenho mais nada a dizer senão: força Portugal!

Portugal 0 Grécia 0 - Sem surpresa

840829.jpgNo passado sábado, dia 31 de maio, a Seleção Portuguesa recebeu, no Estádio Nacional, a sua congénere grega em jogo de carácter particular. Tal encontro terminou com o marcador por inaugurar. Não posso dizer que tenha ficado surpreendida. Tal como referi anteriormente, depois das experiências dos últimos dois primeiros jogos das preparações do Mundial 2010 e do Euro 2012, não podia esperar muito melhor.

 
Não achei, contudo, que o jogo tivesse sido mau, tendo em conta as minhas baixas expectativas. Paulo Bento experimentou uma táctica diferente, com apenas dois médios (William Carvalho e Miguel Veloso) e com dois pontas-de-lança (Éder e Hélder Postiga). Não me vou alongar mais do que isto, que eu não percebo assim tanto deste assunto. Deixou de fora habituais titulares, como Moutinho, Meireles, bem como os portugueses do Real Madrid, Coentrão, Pepe e Ronaldo. A estratégia até não resultou mal: a Seleção Portuguesa entrou em campo muito desenvolta, conseguindo três oportunidades nos primeiros minutos de jogo. É claro que não podia, no entanto, faltar o nosso velho problema da finalização. A Grécia foi, de resto, igual a si própria : jogou em bloco baixo, na expectativa, sem correr riscos. Não impedidu, mesmo assim, alguns portugueses de darem uns ares de sua graça, sendo o maior exemplo Nani.
 

 

Confesso que não estava à espera que Nani jogasse tão bem. Por outro lado, conforme o próprio disse, já estou habituada à garra dele, ao inconformismo dele, quando joga pela Seleção. Pode ser que o velho Nani esteja a regressar. Esperemos que regresse a tempo do Mundial - seria até bom para a sua carreira, na minha opinião estagnada no Manchester United. Pelo menos, o primeiro passo está dado.
 
Não há muito mais a dizer sobre o jogo. Portugal dominou praticamente todo o encontro, mesmo quando o jogo entrou em ritmo de treino - também para evitar lesões, suponho. Só perto do final é que a Grécia pregou alguns sustos. Acho que merecíamos ter ganho, por pelo menos 1-0. Não deixei de esperar por esse golo embora, já mais para o fim, começasse a perceber que não passaria dali. É pena, pois acho que deixámos escapar uma oportunidade de termos a nossa vingançazita, ainda que meramente simbólica.

É claro que, com este empate, já vem tudo dizer que a culpa foi da ausência do Ronaldo, que a equipa não é nada sem ele, blá, blá, blá, blá, blá, blá. Como se nunca tivéssemos tido jogos pouco conseguidos com ele, com os problemas de finalização e tudo o mais. Um excelente exemplo é o particular com a Macedónia de há dois anos, disputado em circunstâncias semelhantes às atuais, com algumas diferenças: Ronaldo jogou, e sem limitações físicas, a Macedónia tinha menos argumentos que a Grécia e Portugal jogou pior que no sábado. É apenas um caso, entre muitos. O jogo com a Macedónia não provou nada - toda a gente sabe como correu o Euro 2012 - e não me parece que este jogo com a Grécia prove alguma coisa.

 

Já sei que as pessoas têm memória curta, mas toda a conversa do Ronaldo-mais-dez já enjoa. Irrita-me que quase todos adotem o mesmo discurso fácil, demagógico, que quase ninguém tenha abertura de espírito para olhar além do Ronaldo-mais-dez, para propor soluções, em vez de se limitar a apontar o dedo. 
 
Por outro lado, consta que o preconceito já se alastrou aos nossos adversários. Disso não me queixo - só temos a ganhar caso eles nos subestimem.
 
Nada disto, de resto, é algo a que não esteja habituada, sobretudo em vésperas de campeonatos de seleções. Eu nem me devia irritar tanto - às vezes, este tipo de ambiente é mais benéfico à Seleção do que uma confiança exagerada. Além disso, conforme já disse antes, tudo isto será esquecido assim que o Mundial começar a correr-nos bem. Mas... e se não correr?
 
 
Depois de terem sido recebidos pelo Presidente da República (e se terem comportado como uns autênticos totós, pelas fotografias que andam a sair), a Seleção Portuguesa encontra-se, neste preciso momento, em pleno voo direto a Newark, nos Estados Unidos, onde irão estagiar durante cerca de dez dias. Na madrugada de sexta-feira para sábado, de dia 6 para dia 7, à uma e meia da manhã da hora portuguesa, jogamos um particular com o México no já nosso conhecido Gillette Stadium. Consta que Portugal disputou poucos jogos com essa seleção, sendo que o encontro mais recente deu-se durante o Mundial 2006, encontro esse que ganhámos por 2-1, com uma equipa de suplentes, sem grande dificuldade. Não sei muito sobre o México, diria que está ao nosso alcance. No entanto, sendo um particular onde Paulo Bento quererá, certamente, fazer experiências, tudo pode acontecer, o resultado não será tão importante. Mas queria uma vitória, como quero sempre. Por motivos variados, entre os quais, para contrariar um pouco um certo cepticismo corrente na opinião pública em relação a este Mundial.

Aproveito este preciso momento, em que a Equipa de Todos Nós já deixou o nosso País, encontrando-se em pleno voo, para terminar esta entrada com o desejo de que os nossos Marmanjos não regressem antes de 14 de julho.