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O Meu Clube É a Seleção!

Mulher de muitas paixões, a Seleção Nacional é uma delas.

Portugal 6 Bósnia 2 - Uma autêntica final

Há cerca de um ano e um mês que sonho com esta entrada no blogue - desde que Paulo Bento assumiu o comando técnico da Selecção Portuguesa de Futebol conseguindo, em poucos dias, pô-la a vencer e a golear, relançando-a na luta pela Qualificação para o Campeonato Europeu de 2012, a realizar-se na Polónia e na Ucrânia. Isto apesar de, quando esta chegou às suas mãos, a Equipa de Todos Nós se encontrar praticamente destruída, após um Campeonato do Mundo que deixou bastante a desejar e um caso desagradável (e "desagradável" é um grande eufemismo) no seu rescaldo que culminou num trágico arranque de apuramento e no despedimento nada amigável do antigo Seleccionador. Essa crise está definitiva e finalmente ultrapassada - como eu sabia que acabaria por acontecer - após um jogo do outro mundo, ontem à noite - como eu não sabia que iria acontecer.

Realmente, até dá gosto escrever sobre jogos como a segunda mão do playoff de acesso ao Euro 2012. Dá gosto é como quem diz... Eu adoro escrever sobre a Selecção independentemente das circunstâncias mas recordar momentos como meia dúzia de golos fenomenais, os invulgarmente efusivos festejos de Paulo Bento, dezenas de milhares de pessoas gritando poderosamente "POR-TU-GAL! POR-TU-GAL!" e cantando o hino a uma só voz, os jogadores abraçando-se e atirando-se para cima uns dos outros, dulcifica imenso a coisa.

Por outro lado, devo confessar que, apesar de me ter dado um prazer especial, esta entrada levou-me tremendas quantidades de tempo a escrever. No meu caderno de rascunhos tenho páginas e páginas cheias de notas. São tantas as coisas de que queria falar, mas infelizmente vou ter de deixar algumas de fora. E, já assim, a entrada vai ser longa, por isso, preparem-se!

Duvido que alguém estivesse à espera de uma vitória tão expressiva quando a Selecção Nacional entrou em campo, ontem à noite. Eu, pelo menos, quando me sentei na minha sala de estar, com o computador portátil no colo, não imaginava que sairíamos da Luz com seis golos marcados. Como costumo fazer quando assisto aos jogos a partir de casa, estava ligada ao Twitter. Aqui ia publicando os meus comentários (apesar de ser pouco provável que estes fossem lidos) e ia lendo as reacções de portugueses e estrangeiros um pouco por todo o mundo - a beleza da Internet! E foi bom ver termos relacionados com Portugal no Top 10 dos Trending Topics, para variar.

A Selecção entrou no seu melhor, cheia de garra, decidida a sair da Luz com o passaporte carimbado para a Polónia e a Ucrânia. Daí que a primeira oportunidade de perigo para a baliza da Bósnia-Herzegovina tenha surgido logo aos cinco minutos. E que Cristiano Ronaldo tenha marcado o primeiro golo aos oito minutos, de livre. Um tiro espectacular, mesmo à CR7. Achei graça quando, após o golo se ouviram algumas notas do "Bailinho da Madeira" em honra do madeirense mais amado de todos os tempos.

Mais tarde, soube que, já durante o aquecimento, o Cristiano havia dado sinais claros de que se ia empenhar, de que não queria ficar de fora do Euro 2012. Se era por interesse próprio, pela sua própria mediatização, ou se pela Equipa de Todos Nós, não sei. Talvez fosse por ambos os motivos. Independentemente do egoísmo ou altruísmo das intenções, a verdade é que o jogo de Terça-feira à noite foi um dos melhores dele vestindo a camisola das Quinas e ele contribuiu muito para a vitória. A profecia do outro que eu mencionei na entrada anterior, de que dia 15 seria a noite de Cristiano Ronaldo e de que as 21 seriam a hora dele estava correcta. Mas a minha profecia de que dia 15 seria a noite de toda a Turma das Quinas e de que as 21 seriam a nossa hora também estava correcta uma vez que Ronaldo não foi o único Marmanjo a brilhar na Luz.

Nani, que completa hoje 25 anos de vida, foi um deles ao disparar sobre a baliza bósnia de fora da área. Um golo que me fez exclamar:

- Fogo!...

Estava provado que os Marmanjos estavam inspirados naquela noite. Achei graça ao tweet, mais uma vez, de @lidiapgomes: "Ataque à bomba na Luz".

Ora, a alegria por estes dois primeiros golos foi-me parcialmente roubada pela televisão de sinal digital. O meu pai e o meu irmão haviam chegado mais tarde a casa e estavam na cozinha, vendo o jogo enquanto jantavam. A televisão deles estava mais adiantada. Como tal, quando eles gritaram "GOLO!", eu ainda via a bola nos pés dos Marmanjos... Acabei por pegar no portátil e mudar-me para a cozinha.

O penálti a favor da Bósnia e consequente golo acabou por surgir um pouco contra a tendência do jogo. Safet Susic, o seleccionador da Bósnia, havia dito que o jogo seria decidido nos detalhes. Agora percebia o que ele queria dizer.

O jogo chegava ao intervalo com um resultado que não correspondia ao que de facto se passara em campo e pouco tranquilizador para as cores nacionais. Se os Bósnios anulassem a desvantagem, seriam apurados por terem marcado fora. Tudo era possível e a única certeza que tinha era que ainda haveria muito para ser jogado naquela noite.

Entretanto, o meu pai e o meu irmão acabaram de jantar. Agora, sem televisões adiantadas ligadas, viemos para a sala.

No início da segunda parte, os adeptos portugueses estavam menos exuberantes nas suas manifestações de apoio. Não os posso censurar, sobretudo porque, durante o resto do tempo, mereceriam cinco estrelas. Excepto quando assobiaram o hino bósnio. Apesar de compreender a atitude deles e não poder julgar, acho que isso estava fora dos limites. Em todo o caso, corresponderam ao pedido de apoio por parte de Cristiano Ronaldo. E o capitão da Turma das Quinas agradeceu marcando o terceiro golo da Selecção, na jogada seguinte. Depois, bem ao seu estilo, ter-se-à dirigido aos adeptos bósnios perguntando:

- Mess? Quem é Messi? - Ah, grande Ronaldo!

Este foi o seu 32º golo pela Equipa das Quinas, destronando, deste modo, Luís Figo - ironicamente na mesma noite em que a antiga estrela da Selecção foi homenageada pelas suas 109 internacionalizações. Mas acho que o Figo não se importa. Aqueles que dizem que o Ronaldo só dá o seu melhor pelos clubes começam a ficar sem argumentos. O madeirense encerrará o ano de 2011 com sete golos marcados com a camisola das Quinas - igualando o recorde de 2004. António Oliveira resumiu bem a situação: "Finalmente foi criada uma sintonia perfeita entre a equipa e o jogador". Agora só tem Eusébio e Pauleta acima dele na tabela dos goleadores da Equipa de Todos Nós. E visto que ainda vai a meio da carreira, qualquer dia ainda os vai destronar...

Desta feita, o prazer do golo foi-me de novo roubado, não pelo meu pai e irmão, mas pelos vizinhos de cima. Parecia mesmo que o sinal digital tinha tirado o dia para se divertir à minha custa. Irritada, acabei por voltar para a cozinha, desejando que a Selecção marcasse mais um golo, para eu poder celebrar como deve ser.

Podia ter celebrado alguns minutos mais tarde se a equipa de arbitragem tivesse visto Papac ajeitando a bola com as mãos na área da Bósnia de uma forma bem mais ostensiva do que no lance que dera o penálti à Bósnia. Mas os árbitros pareciam estar a sofrer de uma miopia bastante selectiva, naquela noite. Miopia essa que voltou a manifestar-se minutos mais tarde, quando não viram o fora-de-jogo de Spahic no lance do segundo golo deles. Mais um detalhe, mais um pormenor tornado pormaior. Houve quem twittasse que havia ali um dedinho de Michel Platini. Não me surpreenderia...

Estávamos de novo com uma vantagem precária que, apesar de nós sermos claramente melhores, poderia ser anulada por outro detalhe, por outro capricho do destino. Estava a ser um verdadeiro jogo da Equipa de Todos Nós, com todo o sofrimento que a ele costuma estar associado, cheio de emoções fortes. Uma autêntica final. Parecia, de certa forma, um resumo de toda a caminhada para a fase final do Euro 2012, com todos os momentos de brilho, de garra, mais os inesperados tropeções e momentos menos bons. Tudo podia acontecer, todos os desfechos desta história eram possíveis. Mas eu acreditava, como nunca deixo de acreditar. Acreditava que a Selecção marcaria mais um golo e consolidaria a vitória.

E não me enganei.

Hélder Postiga marcou aos 72 minutos, após uma excelente assistência por parte de Ruben Micael, dando-me, finalmente, a oportunidade de gritar "GOLO!" e travando de vez os bósnios. Menos de dez minutos depois, foi marcado um pontapé livre perigoso a favor de Portugal. À semelhança do que acontecera nos livres anteriores, o público chamou por Ronaldo, mas aquela zona era a especialidade de Miguel Veloso. Por isso, o Marmanjo pediu para ser ele a executar o pontapé livre. Ronaldo aceitou e, deste modo, Veloso teve também direito ao seu momento de glória.

Ainda não tinham passado três minutos, já Hélder Postiga cabeceava para o interior da baliza bósnia, marcando o seu segundo golo naquela noite. Houve quem dissesse que ele estava a sorrir quando fez esta jogada. É bem possível.

Estava feito o resultado, embora eu ainda esperasse mais um golo. Nas bancadas cantava-se o hino de Portugal, celebrava-se já o apuramento. Depois do apito final, os jogadores juntaram-se à festa. Nos holofotes soaram as primeiras notas do Hino Nacional e toda a Luz, todos os jogadores, toda a equipa técnica, todos os adeptos presentes no estádio, todos os portugueses seguindo o jogo à distância, em suma, toda a Selecção Nacional cantou a uma só voz. Um momento lindo e, tanto quanto sei, inédito excepto em finais, que encerrou com chave de ouro um jogo que teve todas as características de uma grande final.

Que a Selecção tenha a oportunidade de voltar a cantar o Hino Nacional no fim de um jogo em Junho do próximo ano!

Falou-se da Troika de ataque constituída por Cristiano Ronaldo, Nani e Hélder Postiga. Aqueles que mais marcaram ao longo da fase de qualificação. Cada um deles marcou no Estádio da Luz. Muita gente parece surpreendida por o Hélder Postiga ter marcado duas vezes, mas não compreendo porquê. Na minha opinião, ele tem sido injustamente subvalorizado pelo público. Não posso falar do clube mas na Selecção tem tido quase sempre bons desempenhos, não só nesta fase de qualificação mas há já vários anos. Sempre foi um dos meus jogadores preferidos. OK, admito que comecei a gostar dele quando tinha treze ou catorze anos pelo seu aspecto (e ainda hoje acho que ele não é nada feio...) mas ao longo dos anos fui ganhando melhores argumentos para gostar dele: é humilde, empenhado, ajuizado, não procura protagonismo e há muito que é um talismã para a Equipa das Quinas. Eu já reconheci o potencial dele, espero que este jogo tenha servido para outros reconhecerem.

O próprio Hélder observou que ele marca sempre na Luz, sempre naquela baliza, curiosamente. Se não me engano, isso aconteceu duas vezes no particular com a Espanha, há precisamente um ano, e no jogo com a Noruega. Um dos comentadores da RTP comentou mesmo que o Hélder devia era arrancar aquela baliza e levá-la para a Polónia e para a Ucrânia - adorei esta frase. Eu costumo dizer mal dos comentadores televisivos mas estes, quando querem, até têm uns rasgos de inspiração...

Mas eu não queria falar apenas da Troika de ataque (que, curiosamente, é constituída por, provavelmente, os meus três jogadores preferidos da Selecção). Quero falar deles em conjunto com o Miguel Veloso, o Hugo Almeida, o João Moutinho, o Fábio Coentrão, o Rui Patrício, o Ricardo Quaresma, entre outros - uma geração que, desde há alguns anos a esta parte, tem dado muito à Equipa de Todos Nós e, visto ainda serem relativamente jovens, julgo que ainda têm tempo para crescerem ainda mais e para darem ainda mais à Selecção. Eu, pelo menos, tenho fé nestes rapazes.

Mas isso seria mais a longo prazo. A curto/médio prazo, temos um Campeonato da Europa para preparar. Já se fazem prognósticos sobre o desempenho da Selecção no Europeu, mas eu prefiro não ir por aí, pelo menos não para já. A euforia ainda está demasiado fresca. Além disso, prefiro saber ao certo o que teremos de enfrentar. E nem me vou pôr a fazer prognósticos sobre o próprio sorteio, nem me vou pôr a dizer quais as selecções mais ou menos convenientes para nós. Para quê? Não podemos influenciar o sorteio... Que seja o que Deus quiser. E não teremos de esperar muito para se conhecer a Sua vontade visto que o sorteio é já dia 2 de Dezembro.

Mas uma coisa confesso: depois de tudo por que a Turma das Quinas passou no último ano e meio, quero ver até onde esta Selecção renascida é capaz de ir.

Encerra-se deste modo inacreditável a caminhada para o Europeu de 2012. Provámos que coisas como  seleccionadores de fraco carácter, dirigentes corruptos, jogadores desertores, notícias desestabilizadoras, relvados manhosos, adeptos hostis, dirigentes estrangeiros que não colaboram, árbitros de imparcialidade duvidosa, presidentes de parcialidade quase provada cientificamente, podem complicar-nos a vida mas, no fim, não chegam para nos impedir de alcançar os nossos objectivos. Que a Selecção é mais forte do que tudo isso.

Quero desde já felicitar todos os jogadores, equipa técnica e adeptos que, como eu, nunca deixaram de acreditar, de apoiar, por termos conseguido um lugar na Polónia e na Ucrânia, por termos conseguido reconstruir a Selecção e colocá-la a jogar ao seu melhor nível. Agradecer-lhes por nos terem dado algo para celebrar, algo por que ansiar. Agradecer-lhes por, mais uma vez, terem retribuído o apoio que lhes é dado.

Por, mais uma vez, provarem que faço bem em ser doida pela Selecção.



Agora que estamos finalmente apurados, planeio montar alguns vídeos de homenagem e apoio à Selecção ao longo dos meses que faltam para o Europeu. Começarei por refazer o vídeo que montei há um ano com a música The Climb, de Miley Cyrus. Não consegui colocá-lo no YouTube devido aos direitos de autor das imagens do Mundial e sempre o lamentei pois considero que a mensagem da música tem muito a ver com a Selecção Nacional. Daí ter decido refazer o vídeo. Desta feita, não vou usar imagens do Mundial (com alguma pena minha) a ver se evito os problemas de direito de autor. Tenciono, até, fazer três versões diferentes: uma com a versão oficial da música, outra com a versão instrumental e outra com um instrumental em piano que encontrei recentemente. Vou tentar tê-las prontas em breve. Quando as tiver postarei aqui.  Entretanto, se quiserem ver as primeiras versões do vídeo, podem sacá-las através dos links aqui ao lado direito.

P.S. As celebrações da vitória e do apuramento para o Europeu foram assombradas pelo estado de saúde do Gustavo, o filho de Carlos Martins, que completa hoje três anos e a quem lhe foi diagnosticada uma leucemia. Três anos de idade e tem cancro... Eu já tinha estranhado a sobriedade dos jogadores nas flash-interviews... Entretanto, o Cristiano Ronaldo, o Nani e o Fábio Coentrão já publicaram apelos à doação de medula óssea nas redes sociais, já se formou uma corrente de solidariedade online - algo que é de louvar e que pode fazer a diferença, dada a popularidade destes jogadores. Talvez eu não tenha grande personalidade, talvez eu seja facilmente manipulável, talvez a Selecção seja uma fraqueza minha e eu faça qualquer coisa que eles me peçam mas a verdade é que tenciono ajudar. E não é só por ser o filho de um Marmanjo, só de pensar numa criança de três anos (um ano mais nova do que um primo meu) a ter de ser submetida a cirurgias e quimioterapia... Quem é que consegue ficar indiferente? Mais ou menos nesta altura do ano costumam vir recolher sangue à minha Faculdade e costumam também apelar ao registo como doador de medula. Eu já doei sangue mas tenho estado relutante em inscrever-me como doadora de medula mas agora... Se não for o Gustavo, há-de ser o filho de outra pessoa qualquer.

Vou também acrescentar o meu blogue à onda de solidariedade para com o Gustavo, apelando a que sigam o meu exemplo e se registem como doadores de medula (saibam mais AQUI). Hoje é o filho do Carlos Martins, amanhã pode ser o vosso filho, o vosso neto, o vosso sobrinho, o vosso irmão. Quero também enviar ao Carlos e à Mónica, os pais do Gustavo, uma mensagem de solidariedade, de força e um desejo do fundo do coração que eles consigam vencer esta luta.

Bósnia 0 Portugal 0 - Sem motivos para preocupações

Na passada Sexta-feira, dia 11 de Novembro, realizou-se em Zenica, na Bósnia-Herzegovina, a primeira mão do playoff de acesso ao Campeonato Europeu de Futebol de 2012, a realizar-se na Polónia e na Ucrânia. O duelo que opôs a Selecção da casa à sua congénere portuguesa terminou empatado sem golos.

Só consegui seguir o jogo com a devida atenção durante a primeira meia hora. Nesse intervalo de tempo, assisti ao desafio numa televisão de sinal ainda analógico, com o som desligado, ouvindo ao mesmo tempo o relato via rádio. Deve ter sido a última vez que vi um jogo dessa forma uma vez que, com a substituição pela Televisão Digital Terrestre, deve acabar a sincronia quase perfeita entre a televisão e a rádio – algo que lamento profundamente. Já antes mencionei aqui o contagioso entusiasmo com que os jogos são relatados na rádio, fazendo os comentadores televisivos parecerem terrivelmente enfadonhos. Na Sexta-feira, não foi excepção. O locutor da Antena1 – cujo nome não decorei – relatou de forma primorosa ao longo do tempo em que estive a escutá-lo. Ele ia intercalando o relato com uma ou outra curiosidade ou uma ou outra piadinha. Mencionou, por exemplo, que um dos responsáveis bósnios fora, de gravador em punho, confirmar com um jornalista da SIC que aquele é que era o hino nacional português; que pernoitara no mesmo hotel que Howard Webb – o árbitro – e que não gostaria de encontra-lo num beco escuro, visto Webb ser alto e corpulento.

Ele pode ter estado apenas a encher chouriços mas os comentadores televisivos, quando não têm nada para dizer, a sua criatividade limita-se a: “Acompanhe depois o rescaldo do jogo na RTP Informação” e pouco mais.

Visto que Portugal cedo ganhou o domínio do jogo, assisti ao desafio com bastante tranquilidade – em contraste absoluto com a agonia que fora o jogo com a Dinamarca. Mais uma prova de que a noite de Copenhaga fora apenas azar, um acidente de percurso. “Aqui quem manda somos nós”, disse mesmo o locutor. O primeiro golo não tardaria, achava eu.

Enganava-me. Entretanto, saímos para o jantar de aniversário da minha mãe – que completou cinquenta anos nesse dia. Entre beijos e abraços aos amigos e familiares, a ocupação dos lugares à mesa, a actualização das conversas, os primeiros pratos, só de vez em quando é que ia olhando a televisão. Não era, portanto, capaz de perceber o que se estava a passar ao certo. Como tal, quando o jogo terminou com o marcador por abrir, não consegui deixar de ficar desanimada. Não percebia como é que aqueles Marmanjos não tinham conseguido marcar apesar de terem jogado tão bem na primeira parte. Fazia-me recordar a Qualificação para o Mundial 2010, em que a Selecção jogava bem mas era incapaz de marcar golos. E, sem golos fora, se os bósnios marcarem na Luz, vai ser complicado.

Só mais tarde, quando vi as notícias, é que percebi que não existem motivos para grandes preocupações. A única coisa que, pelos vistos, nos impediu de levar o jogo de vencida foi, literalmente, o campo. Eu acho um bocado patético estamos a dizer “Eu sei dançar! A pista de dança é que não presta…” mas este foi mesmo um caso à parte. Portugal fez uma exibição de grande qualidade, falou-se mesmo de “personalidade fortíssima” e de “espírito guerreiro” e, segundo os jornalistas, deixou boas promessas para Terça-feira desde que jogue desta forma.

Tem graça. Geralmente, costumo ser eu a optimista e os media a ficar de pé atrás, mas neste jogo passou-se o oposto… Mas eu própria vi-os a jogar de forma excelente durante a primeira parte e acredito que a qualidade se tenha mantido ao longo dos noventa minutos de jogo, por isso…

O campo, de resto, tem sido uma verdadeira dor de cabeça há já coisa de um mês. Vários nomes foram usados para o definir – batatal, horta, pseudo-relvado – e várias piadas foram feitas. Um exemplo foi um tweet de @lidiapgomes : “Portugal ainda não encontrou o caminho do golo mas já encontrou 3 batatas, 5 cenouras e vários tomates no relvado” – depois desta, o Fábio Coentrão não vai precisar de voltar a assaltar a horta do Cristiano Ronaldo tão cedo… Outro exemplo, foi uma frase do jornal Record: “Pepe foi o que mais amealhou no Farmville”. Adorei estas duas! A Federação já tinha pedido à UEFA que trocasse a localização do jogo mas tal pedido caiu em saco roto. Isto apesar de a França ter pedido o mesmo em relação ao seu embate com a Bósnia aquando do apuramento – algo que já não me surpreende.

Aquilo que me surpreendeu foi o facto de os dirigentes bósnios terem desrespeitado o acordo forjado na manhã antes do jogo e regado o campo, piorando ainda mais a sua qualidade. Juro que não percebo qual foi a ideia deles. À pala disso, a Selecção jogou sob protesto. Agora, estou curiosa em relação às consequências de tal processo.

Mas entretanto, ainda temos a segunda mão do playoff, na Terça-feira, no Estádio da Luz. Esta coisa do “relvado” e dos dirigentes bósnios é apenas um factor a contribuir para um desejo relativamente saudável de vingança. Como dizia no Record, mais uma vez, desejamos uma desforra por isso e pelos adeptos hostis que fizeram barulho à porta do hotel da Selecção, que apontaram lasers ao Ronaldo e gritaram por Messi (apesar de muitos garantirem que, há dois anos, foi pior. Por acaso, até gostei da linguagem gestual cujo significado toda a gente conhece. Pode não ter sido politicamente correcto mas, como costumo dizer, uma miúda não é de ferro e não tenho lata para exigir que o Ronaldo o seja quando tanta gente tenta destabilizá-lo). Para isso, a ideia dos jornalistas é encher o Estádio da Luz, não só de adeptos, mas também “de fervor, de paixão, de entusiasmo, de alegria”. Recriar o lendário Inferno da Luz.

A mim, não é só a vingança que me motiva. Existem outros desejos mais antigos, várias vezes mencionados aqui no blogue ao longo do último ano: consumar o renascimento da Selecção depois do caso Queiroz; dar uma alegria aos portugueses numa altura em que tudo o resto está cada vez pior; uma promessa de mais alegrias no próximo ano, algures entre Maio e Junho. Encerrar o percurso até à fase final do Euro 2012 da melhor forma. Até porque, na remota hipótese de falharmos, o Europeu não terá o mesmo interesse, não só para nós, mas também para o mundo futebolístico em geral. Na coluna de Alexandre Pais do Record, este dizia: “Cristiano, dia 15 é a tua noite, as 21 são a tua hora”. Eu prefiro a frase assim: dia 15 é a nossa noite, as 21 são a nossa hora. Porque a Selecção não é só o Ronaldo. Somos todos nós. E na próxima Terça-feira mostraremos ao mundo aquilo de que somos capazes.


P.S. Não quero falar sobre José Bosingwa. Já se falou e opinou o suficiente sobre isso, não tenho muito mais a acrescentar. Aliás, as declarações e os rumores que têm circulado pelos media podem estar incompletos, descontextualizados, talvez até sejam falsos. Por isso, não me sinto à vontade para tecer julgamentos. Além de que não sei ao certo o que pensar desta história toda… Assim, apenas lamento que a Selecção tenha perdido mais uma mais-valia. E, tal como aconteceu com Ricardo Carvalho, espero que a Equipa de Todos Nós não saia demasiado afectada desta história toda e que, eventualmente – embora saiba que é pouco provável – Bosingwa e Paulo Bento façam as pazes e o jogador possa voltar à Selecção.

"E agora já só falta a Bósnia-Herzegovina"

Realizar-se-á em breve o play-off de acesso ao Campeonato Europeu de Selecções, a realizar-se em 2012 na Polónia e na Ucrânia. A Selecção Portuguesa de Futebol disputá-lo-á com a sua congénere bósnia num jogo a duas mãos. A primeira realizar-se-á dia 11 de Novembro em Zenica, na Bósnia-Herzegovina. A segunda realizar-se-á dia 15 de Novembro, no Estádio da Luz.

Paulo Bento divulgou a lista de Convocados para este play-off na passada Sexta-feira, precisamente a uma semana da primeira mão. Não existem grandes novidades na lista, embora se destaque o regresso de habituais como Fábio Coentrão, Pepe, Danny e Hugo Almeida – dando a Paulo Bento uma “maior possibilidade de escolha” e, pelo menos a mim, uma maior tranquilidade.

Muitos têm alertado para o potencial da Bósnia, que cresceu durante os dois anos que nos separam da última vez que jogámos contra eles, no play-off de acesso ao Mundial 2010. Incluindo um integrante da selecção que será a nossa adversária. “Crescemos como equipa e temos mais experiência do que no último play-off”, afirmou recentemente o médio bósnio Zvjedzan Misimovic. “Há muita qualidade no ataque e também estamos um pouco melhores na defesa. A nossa autoconfiança aumentou.”  E, apesar de reconhecer o nosso valor, observou: “Nem tudo está fácil para eles [Portugal]. Qualquer Selecção com tanto potencial teria conseguido o apuramento directo.” Essa doeu.

Contudo – apesar de ser a primeira a reconhecer que não domino o assunto – acho que Portugal também melhorou alguma coisa neste intervalo de tempo, em particular, no último ano. Pelo menos, a Qualificação para o Europeu 2012 foi, em alguns aspectos, melhor do que a Qualificação para o Mundial 2010. Se bem se recordam, empatámos vários jogos, por vezes sem marcarmos um golo que fosse, só despertámos na parte final da qualificação, quando sentimos a corda ao pescoço. Na Qualificação, que terminou recentemente, ganhámos todos os jogos, exceptuando os dois primeiros e o último, marcámos generosamente em muitos deles, frente a adversários nem sempre assim tão fracos. O próprio Paulo Bento disse na Conferência de Imprensa em que anunciou os Convocados: Não vou desconfiar de quem durante um ano e picos fez tudo o que devia fazer e, por um jogo, pôr tudo em causa.  Adorei esta declaração.

Tendo tudo isto em conta, o prognóstico do Seleccionador de cinquenta por cento de hipóteses para cada lado, acaba por ser o mais sensato. Acredito, além disso, que podemos esperar um play-off bem disputado, emocionante como só um jogo da Selecção consegue ser.

Luís Figo, que, no mesmo dia em que os Convocados foram divulgados, completou  trinta e nove anos de existência, disse, mais do que uma vez, que acreditava numa vitória das cores nacionais embora tenha avisado que “não era o fim do futebol português” se isso não acontecesse. É óbvio que tem razão. Contudo, como já disse antes, penso eu, nunca coloco sequer essa hipótese. Sei que não é assim tão remota, mas, pura e simplesmente, não quero sequer pensar em ficar de fora de um Campeonato de Selecções. Muito menos agora, que as coisas estão cada vez mais negras para o nosso País. Como já repeti umas mil vezes, precisamos de algo bom por que esperar no futuro. Mesmo que o Europeu não dê em nada, mesmo que, mais tarde, se venha a descobrir que a Selecção não funcionava tão bem como parecia, tal como aconteceu no Mundial 2010, aquelas semanas em que se preparam as fases finais são uma fuga à rotina, uma fonte extra de alegria, um período de entusiasmo por antecipação que eu, pelo menos, prezo.

Como tal, não peço aos jogadores que se qualifiquem ou morram tentando, mas que, pelo menos, façam um esforço. E acredito que o farão. Como afirmou Paulo Bento, “se não estivermos motivados para jogar uma fase final, dificilmente estaremos motivados para alguma coisa”. É como diz a música: “o people é sereno mas play-off é p’ra ganhar”.

Um aparte só para comentar que uma das vantagens de voltarmos a jogar com a Bósnia é podermos reutilizar o Menos Ais Versão Play-off (AQUI). Ainda me custa a acreditar que já tem dois anos de idade…

Não sei se poderei actualizar o blogue antes do jogo de Sexta-feira, visto que terei uma semana muito ocupada. Mas obviamente poderão contar com uma análise à primeira mão nos dias seguintes.

O dia 11 será um dia multiplamente especial para mim uma vez que a minha mãe completará meio século de idade, como diz o meu pai; ainda por cima numa capicua. Só no meu aniversário é que nunca há jogos da Selecção… À hora da primeira mão do play-off estarei, certamente, no jantar de anos da minha mãe. Em princípio o restaurante terá televisão – se tiver, será bom assistir ao jogo com várias pessoas, como no meu último encontro com a Noruega. Se não tiver, tenho sempre o meu leitor de MP3.

A minha mãe não liga tanto à Selecção como eu (também deve haver pouca gente a ligar tanto ou mais do que eu…) mas os Marmanjos podiam dar-lhe um belo presente vencendo em Zenica e adiantando-se no caminho para o Europeu. À minha mãe e a todos os portugueses. Acredito, ou melhor, sei que, embora não possam prometê-lo sem margem de erro, a Selecção tudo fará para nos dar tal presente. E ninguém esperaria menos.